“Os textos a seguir são trechos retirados do livro Intertextualidade Diálogos Possíveis de Ingedore G. V. Koch / Anna Christina Bentes / Mônica Magalhães Cavalcante (Cortez Editora, 2007)”
INTERTEXTUALIDADE
A intertextualidade ocorre quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade ou de memória discursiva dos interlocutores. Isto é, em se tratando de intertextualidade é necessário que o texto remeta a outros textos ou fragmentos de textos efetivamente produzidos, com os quais estabelece algum tipo de relação. (p.17)
Diversos tipos de intertextualidade têm sido relacionados, cada qual com características próprias:
· Intertextualidade Temática
A intertextualidade temática acontece também entre textos literários de uma mesma escola ou de um mesmo gênero, como acontece, por exemplo, nas epopéias, ou mesmo entre textos literários de gêneros e estilo diferentes (temas que retomam ao longo do tempo, como o do usuário, na Aululária de Plauto, em O Avarento de Molière e em O Santo e a Porca de Ariano Suassuna). (p.18) [...]
· Intertextualidade Estilística
[...]
A intertextualidade estilística ocorre, por exemplo, quando o produtor do texto, com objetivos variados, repete, imita, parodia certos estilos ou variedades lingüísticas: são comuns os textos que produzem a linguagem bíblica, um jargão profissional, um dialeto, o estilo de um determinado gênero, autor ou segmento da sociedade. (p.19) [...]
· Intertextualidade Explícita
A intertextualidade será explícita quando, no próprio texto, é feita menção à fonte do intertexto, isto é, quando um outro texto ou um fragmento é citado, é atribuído a outro enunciador; ou seja, quando é reportado como tendo sido dito por outro ou por outros generalizados (“Como diz o povo...”, “segundo os antigos...”). É o caso das citações, referências, menções, resumos, resenhas e traduções. (p.28)
[...]
· Intertextualidade Implícita
Tem-se a intertextualidade implícita quando se introduz, no próprio texto, intertexto alheio, sem qualquer menção explícita da fonte, com objetivo quer de seguir-lhe a orientação argumentativa, quer de contraditá-lo, colocá-lo em questão, de ridicularizá-lo ou argumentar em sentido contrário. (p.30)
[...]
Nos casos de intertextualidade implícita, o produtor do texto espera que o leitor/ouvinte seja capaz de reconhecer a presença do intertexto, pela ativação do texto-fonte em sua memória discursiva, visto que se tal não ocorrer, estará prejudicada a construção do sentido. (p.31)
[...]
Há também, casos especiais em que tal recuperação se torna altamente indesejável: é aqui que se poderia falar de plágio. Isto é, o plágio seria um tipo particular de intertextualidade implícita, com valor de captação, mas no qual, ao contrário dos demais, o produtor do texto espera (ou deseja) que o interlocutor não tenha na memória o intertexto e sua fonte, procurando, para tanto camuflá-lo por meio de operações de ordem linguística, em sua maioria de pequena monta, como: apagamentos, substituições de termos, alterações de ordem sintática, transposições etc.(KOCH, Ingedore G., BENTES, Anna Christina, CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Intertextualidade: Diálogos Possíveis. São Paulo: Cortez, 2007)
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EXEMPLO 1
TEXTO: Conto de Guimarães Rosa "A Terceira Margem do Rio"
João Guimarães Rosa
A TERCEIRA MARGEM DO RIO
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.
No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.
Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.
Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.
Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.
Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
INTERTEXTO: Música "A Terceira Margem do Rio" de Caetano Veloso e Milton Nascimento
Oco de pau que diz: eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz, risca certeira
Meio a meio o rio ri, silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz: risca terceira
Água da palavra, água calada, pura
Água da palavra, água de rosa dura
Proa da palavra, duro silêncio, nosso pai,
Margem da palavra entre as escuras duas
Margens da palavra, clareira, luz madura
Rosa da palavra, puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri por entre as árvores da vida
O rio riu, ri por sob a risca da canoa
O rio riu, ri o que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi a voz das águas
Asa da palavra, asa parada agora
Casa da palavra, onde o silêncio mora
Brasa da palavra, a hora clara, nosso pai
Hora da palavra, quando não se diz nada
Fora da palavra, quando mais dentro aflora
Tora da palavra, rio, pau enorme, nosso pai
Link:http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/a-terceira-margem-do- io.html#ixzz2VaBWmzem
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EXEMPLO 2
LIVRO: FRANKENSTEIN - Mary Shelley
INTERTEXTOS
1. FILME: Frankenweenie de Tim Burton (Animação)
2. IMAGEM: Burt Simpson
Obs: "Os Simpsons" sempre fazem intertextos literários.
3. FIlME: Monster High (Animação)
Personagem Frankie Stein
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EXEMPLO 3
TEXTO: Conto Maravilhoso "Chapéuzinho Vermelho"
Era uma vez, uma menina tão doce e meiga que todos gostavam dela. A avó,
então, a adorava, e não sabia mais que presente dar a criança para agradá-la.
Um dia ela presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho.
O chapeuzinho agradou tanto a menina e ficou tão bem nela, que ela queria ficar
com ele o tempo todo. Por causa disso, ficou conhecida como Chapeuzinho
Vermelho.
Um dia sua Mãe lhe chamou e lhe disse:
_Chapeuzinho, leve este pedaço de bolo e essa garrafa de vinho para sua avó.
Ela está doente e fraca, e isto vai faze-la ficar melhor. Comporte-se no
caminho, e de modo algum saia da estrada, ou você pode cair e quebrar a garrafa
de vinho e ele é muito importante para a recuperação de sua avó.
Chapeuzinho prometeu que obedeceria a sua mãe e pegando a cesta com o bolo e o
vinho, despediu-se e partiu.
Sua avó morava no meio da floresta, distante uma hora e meia da vila.
Logo que Chapeuzinho entrou na floresta, um Lobo apareceu na sua frente.
Como ela não o conhecia nem sabia que ele era um ser perverso, não sentiu medo
algum.
_ Bom dia Chapeuzinho - saudou o Lobo.
_Bom dia, Lobo - ela respondeu.
_Aonde você vai assim tão cedinho, Chapeuzinho?
_Vou à casa da minha avó.
_E o que você está levando aí nessa cestinha?
_Minha avó está muito doente e fraca, e eu estou levando para ela um pedaço de
bolo que a mamãe fez ontem, e uma garrafa de vinho. Isto vai deixá-la forte e
saudável.
_Chapeuzinho, diga-me uma coisa, onde sua avó mora?
_ A uns quinze minutos daqui. A casa dela fica debaixo de três grandes
carvalhos e é cercada por uma sebe de aveleiras. Você deve conhecer a casa.
O Lobo pensou consigo: "Esta tenra menina é um delicioso petisco. Se eu
agir rápido posso saborear sua avó e ela como sobremesa”.
Então o Lobo disse:
_Escute Chapeuzinho, você já viu que lindas flores há nessa floresta? Por quê
você não dá uma olhada? Você não está ouvindo os pássaros cantando? Você é
muito séria, só caminha olhando para frente. Veja quanta beleza há na floresta.
Chapeuzinho então olhou a sua volta, e viu a luz do sol brilhando entre as
árvores, e viu como o chão estava coberto com lindas e coloridas flores, e
pensou: "Se eu pegar um buquê de flores para minha avó, ela vai ficar
muito contente. E como ainda é cedo, eu não vou me atrasar”.
E, saindo do caminho entrou na mata. E sempre que apanhava uma flor, via outra
mais bonita adiante, e ia atrás dela. Assim foi entrando na mata cada vez mais.
Enquanto isso, o Lobo correu à casa da avó de Chapeuzinho e bateu na porta.
_Quem está aí? - perguntou a velhinha.
_Sou eu, Chapeuzinho - falou o Lobo disfarçando a voz - Vim trazer um pedaço de
bolo e uma garrafa de vinho. Abra a porta para mim.
_Levante a tranca, ela está aberta. Não posso me levantar, pois estou muito
fraca. - respondeu a vovó.
O Lobo entrou na casa e foi direto à cama da vovó, e a engoliu antes que ela
pudesse vê-lo. Então ele vestiu suas roupas, colocou sua touca na cabeça,
fechou as cortinas da cama, deitou-se e ficou esperando Chapeuzinho Vermelho.
E Chapeuzinho continuava colhendo flores na mata. E só quando não podia mais
carregar nenhuma é que retornou ao caminho da casa de sua avó.
Quando ela chegou lá, para sua surpresa, encontrou a porta aberta.
Ela caminhou até a sala, e tudo parecia tão estranho que pensou: "Oh,
céus, por quê será que estou com tanto medo? Normalmente eu me sinto tão bem na
casa da vovó...”.
Então ela foi até a cama da avó e abriu as cortinas. A vovó estava lá deitada
com sua touca cobrindo parte do seu rosto, e, parecia muito estranha...
_Oh, vovó, que orelhas grandes a senhora tem! - disse então Chapeuzinho.
_É para te ouvir melhor.
_Oh, vovó, que olhos grandes a senhora tem!
_ É para te ver melhor.
_Oh, vovó, que mãos enormes a senhora tem!
_São para te abraçar melhor.
_Oh, vovó, que boca grande e horrível à senhora tem!
_ É para te comer melhor - e dizendo isto o Lobo saltou sobre a indefesa
menina, e a engoliu de um só bote.
Depois que encheu a barriga, ele voltou à cama, deitou, dormiu, e começou a
roncar muito alto. Um caçador que ia passando ali perto escutou e achou
estranho que uma velhinha roncasse tão alto, então ele decidiu ir dar uma
olhada.
Ele entrou na casa, e viu deitado na cama o Lobo que ele procurava há muito
tempo.
E o caçador pensou: "Ele deve ter comido a velhinha, mas talvez ela ainda
possa ser salva. Não posso atirar nele”.
Então ele pegou uma tesoura e abriu a barriga do Lobo.
Quando começou a cortar, viu surgir um chapeuzinho vermelho. Ele cortou mais, e
a menina pulou para fora exclamando:
_Eu estava com muito medo! Dentro da barriga do lobo é muito escuro!
E assim, a vovó foi salva também.
Então Chapeuzinho pegou algumas pedras grandes e pesadas e colocou dentro da
barriga do lobo.
Quando o lobo acordou tentou fugir, mas as pedras estavam tão pesadas que ele
caiu no chão e morreu.
E assim, todos ficaram muito felizes.
O caçador pegou a pele do lobo.
A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia trazido, e
Chapeuzinho disse para si mesma:
“Enquanto eu viver, nunca mais vou desobedecer minha mãe e desviar do caminho
nem andar na floresta sozinha e por minha conta”.
Irmãos Grimm
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O Lobo Mau da Ucrânia
INTERTEXTOS
1. FILME: "Deu a louca na Chapéuzinho"
2. LIVRO: "Chapéuzinho Amarelo" de Chico Buarque
3. LIVRO: "Fita Verde No Cabelo" de Guimarães Rosa
4. ILUSTRAÇÃO: Gravura "Chapéuzinho Vermelho" de Doré
5. FILME: "A Garota da Capa Vermelha"
6. MÚSICA: "O Lobo Mau da Ucrânia" de Cazuza
O Lobo Mau da Ucrânia
Meus olhos são bem grandes pra te secar
Minha boca é um bueiro que vai te sugar
E a minha narigona
Te cheira bonitona
Sou o lobo mau que veio da Ucrânia
Cheguei no Brasil
Na terra azul de anil
Back, back from Chernobyl
O lobo mau de Chernobyl
Quando você deitar, eu já vou tá na cama
O medo do futuro que não te abandona
Pra você o perigo mora em terras distantes
Em livros pendurados na estante
Cheguei no Brasil
Na terra azul de anil
Back, back from Chernobyl
O lobo mau de Chernobyl
Minha sede de viver é uma ameaça atômica
E os meios que eu uso, baby, eu nem te conto
Meus "is" não tem ponto
Nunca peço desculpa
E escrevo "deus" com letra minúscula
Cheguei no Brasil
Na terra azul de anil
Back, back from Chernobyl
O lobo mau de Chernobyl
Link: http://www.vagalume.com.br/cazuza/o-lobo-mau-da-ucrania.html#ixzz2WWYpJHuF
Minha boca é um bueiro que vai te sugar
E a minha narigona
Te cheira bonitona
Sou o lobo mau que veio da Ucrânia
Cheguei no Brasil
Na terra azul de anil
Back, back from Chernobyl
O lobo mau de Chernobyl
Quando você deitar, eu já vou tá na cama
O medo do futuro que não te abandona
Pra você o perigo mora em terras distantes
Em livros pendurados na estante
Cheguei no Brasil
Na terra azul de anil
Back, back from Chernobyl
O lobo mau de Chernobyl
Minha sede de viver é uma ameaça atômica
E os meios que eu uso, baby, eu nem te conto
Meus "is" não tem ponto
Nunca peço desculpa
E escrevo "deus" com letra minúscula
Cheguei no Brasil
Na terra azul de anil
Back, back from Chernobyl
O lobo mau de Chernobyl
Link: http://www.vagalume.com.br/cazuza/o-lobo-mau-da-ucrania.html#ixzz2WWYpJHuF
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EXEMPLO 3
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